TEXTO 2 - O MISTÉRIO DA CATÁSTROFE DE TUNGUSKA
Árvores na região de Tunguska tombadas pelo impacto da explosão.
Na manhã do dia 30 de junho de 1908, exatamente às 7h17min e 11s (horário local, correspondente a 0h17min UTC), várias explosões romperam o silêncio das vastas áreas montanhosas do interior da Sibéria. Minutos antes, mais de 900 testemunhas registraram estranhas aparições no céu da região. De importância crucial para a investigação do caso, foi o avistamento de um objeto cilíndrico tão luminoso quanto o sol, que atravessou a bacia do rio Tunguska acompanhado de um estrondo, vindo da direção sudeste para a noroeste. Isso fez com que as casas do posto comercial Vanavaara tremessem e, em muitos lugares, as xícaras e pratos nas prateleiras balançassem e caíssem no chão. As águas do rio Angara (e de outros da região) foram ejetadas para fora dos leitos formando enormes ondas.
Pouco depois do desaparecimento do objeto do campo de visão das testemunhas, "o céu se abriu no horizonte e surgiu uma gigantesca nuvem de fumaça". Imediatamente após, iniciou-se uma série de explosões que liberaram no total uma quantidade de energia correspondente a 2000 bombas de Hiroshima. A terra tremeu a uma distância de 1000 km, fazendo até um maquinista da Ferrovia Transiberiana acionar o freio de emergência de sua locomotiva, pois acreditou que a caldeira da máquina havia explodido.
A população local entrou em pânico, com muitas especulações sobre uma possível retomada da guerra russo-japonesa na Manchúria e um ataque japonês à região de Angara. Os habitantes nativos da área, os Ewencos, acreditavam que era um castigo de seu deus Ogdi, que marcava o início do fim do mundo.
Em uma aldeia dos Ewencos, localizada a apenas 20 km do epicentro das explosões, as pessoas, o gado e as tendas foram arremessados pelo ar. A onda da explosão destruiu uma área de floresta de 2150 km², com 200 km² incendiados e destruídos pelos raios que acompanharam a explosão. Na catástrofe que se seguiu, manadas inteiras de renas foram queimadas.
As explosões geraram uma onda de choque que se propagou por todo o planeta. Observatórios ao redor do mundo conseguiram identificar nitidamente a ocorrência por meio dos recém-inventados sismógrafos. Diversas estações de registro de terremotos, como as de Berlim, Irkutsk, Taschkent e Tiflis, captaram esses sinais. Cerca de cinco minutos após o registro, o observatório de Irkutsk, localizado a mil quilômetros de distância, registrou uma anomalia magnética que durou cinco horas, semelhante a uma tempestade no campo magnético da Terra, como as que seguem explosões atômicas. As agulhas das bússolas giravam descontroladamente, apontando em diversas direções.
Nos dias seguintes à explosão, várias regiões da Ásia e da Europa não ficaram mais escuras durante a noite. Entre 23 de junho e o início de agosto, foram observadas luzes polares incomuns, típicas de auroras.
O acontecimento se deu em uma das regiões mais inacessíveis e menos habitadas do planeta e não recebeu atenção imediata da opinião pública mundial. Os jornais das grandes cidades, no entanto, estavam cheios de notícias sobre aparições luminosas estranhas, noites claras e luzes polares, tudo sendo interpretado como reflexo de material vulcânico ejetado na estratosfera por uma erupção na ilha Iwan Bogoslof, nas Aleutas. O jornal "Morgenpost" de Berlim, em 3 de julho de 1908, suspeitou inicialmente de anomalias magnéticas relacionadas a uma mancha solar especialmente ativa naqueles dias.
EXPEDIÇÕES
Naquela época, a Rússia era marcada por grandes desigualdades sociais, conflitos separatistas e tensões que antecederam a revolução. Em 1911, um grupo de geólogos russos chegou acidentalmente à região de Schischkow, que fica a 120 quilômetros ao sul do epicentro da explosão. Eles ficaram impressionados com o mar de árvores derrubadas, mas levou mais 19 anos até que a primeira expedição dedicada especificamente a investigar o mistério de Tunguska fosse realizada naquela região.
A pesquisa foi iniciada pelo geólogo e especialista em meteoritos Leonid Alexejewitsch Kulik, que era professor de Ciências Geológicas e membro da Academia de Ciências de Moscou. Se não fosse pelo seu interesse no assunto, este evento poderia ter sido completamente esquecido. Infelizmente, após anos de procura, ele não obteve sucesso em encontrar a causa da explosão. Para piorar a situação, em 1941 a Alemanha invadiu a União Soviética e Kulik foi preso pelos nazistas durante a defesa de Moscou. Ele havia retornado à capital por causa da guerra e, infelizmente, faleceu na prisão durante o inverno seguinte.
Demoraria ainda até o ano de 1958 até que nova expedição visitasse a região da catástrofe. Organizada pelo "Comitê de Meteoritos" da Academia de Ciências e dirigida pelo geoquímico K.P. Florenski, o novo grupo de cientistas chegou à conclusão de que o episódio (a explosão em si) não poderia ter como causa a queda um meteorito (como sugeria Kulik).
HIPÓTESES
A catástrofe trata-se de um acontecimento bastante complicado, e aparentemente adeptos de todas as hipóteses encontram sempre alguns indícios para embasar as suas pesquisas. A falta de qualquer material de importância significativa no solo da região fez surgir a suspeita, no final dos anos cinquenta, de que o episódio de Tunguska não tinha se tratado da queda de um asteroide que veio a depositar meteoritos na superfície terrestre, mas sim de um cometa que adentrou a nossa atmosfera, vaporizando-se completamente e provocando a enorme explosão alguns quilômetros acima do solo.
Ao contrário de asteroides ou planetoides, cometas tratam-se de "bolas de neve sujas". Sua estrutura, no geral, consiste de 20% de minerais leves na forma de poeiras e pedras, incrustados por uma camada de gelo que forma os outros 80%, composta de água congelada, nitrogênio, metano, gás carbônico, monóxido de carbono, combinações de cianetos e outros gases A vaporização desses materiais explicaria a falta de evidências do objeto no local da possível queda.
Texto extraído e adaptado de: FRANK, H. O mistério da catástrofe de Tunguska. Museu de Mineralogia - UFRGS. Disponível em <https://www.ufrgs.br/museumin/EspTunguska.htm>. Acesso em: 25 de mar. de 2023.
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