TEXTO 1 - ROCHAS VINDAS DO ESPAÇO? IMPOSSÍVEL!
Uma gravura alemã de 1628 retrata como a população da época explicava a existência dos meteoros e meteoritos. Aqui, as rochas “vindas do céu” estão sendo representadas como projéteis de artilharia de diferentes legiões celestiais em combate.
CETICISMO E DESCRENÇA
Não havia uma explicação científica plausível para as “rochas que caíam do céu”, então a maioria das "autoridades" antes de 1700 afirmava que os meteoritos, por meio de algum mecanismo desconhecido, se formavam na atmosfera durante violentas tempestades.
A partir do século XVII, a comunidade científica europeia assumiu o compromisso de se fazer observações cuidadosas da natureza sem a interferência direta de crendices pessoais e religiosidades. Isso levou a uma onda de ceticismo em relação a quaisquer afirmações que não pudessem ser comprovadas por fatos científicos ou testadas por observações independentes. O resultado foi o desenvolvimento do método científico moderno.
Bolas de fogo (fireballs, ou bólidos, um tipo específico de meteoro) e meteoritos sempre foram associados à superstições. Apesar de ninguém jamais ter visto uma rocha se formar na atmosfera, nenhuma pessoa era capaz de fornecer um argumento suficientemente convincente explicando como tal coisa como um meteoro poderia existir. Consequentemente, na mente da maioria dos cientistas, dizer também que esse tipo de fenômeno luminoso (e a existência dos próprios meteoritos, por conseguinte) tinha origem espacial era algo fora de cogitação. Devido ao fato de que a maioria dos relatos de testemunhas oculares a respeito de quedas de meteoritos estarem enviesados por histórias fantásticas de maus presságios, desastres pessoais e intervenção divina (afirmações impossíveis de serem comprovadas), não é de se surpreender que tais testemunhos recebessem tão pouco crédito da comunidade acadêmica da época. O ceticismo científico acerca desse fenômeno continuou até o final do século XVIII.
Por volta das 18h30 do dia 14 de dezembro de 1807, uma bola de fogo explodiu sobre Weston, Connecticut, e “fez chover” diversos meteoritos próximos à cidade. Uma investigação conduzida por cientistas da então Universidade de Yale conseguiu coletar cerca de 150 kg de material rochoso. Essa foi a melhor, se não a primeira, bola de fogo documentada na jovem nação americana e muitas testemunhas observaram as rochas “caindo do céu”. A população dos Estados Unidos era esparsa, então o avistamento da bola de fogo sobre as poucas cidades estabelecidas ao longo de sua trajetória foi algo incomum e extremamente excitante.
Quando Thomas Jefferson ouviu falar dessa queda, ele supostamente disse: "Eu prefiro acreditar que dois professores ianques estão mentindo do que no fato de que rochas realmente caíram do céu". Jefferson era um cientista competente, conhecido especialmente por seus estudos em paleontologia e agronomia. Como a maioria dos pesquisadores de sua época, ele era cético em relação às antigas ideias de que as rochas eram de alguma forma produzidas na atmosfera. Entretanto, também se recusava a acreditar que elas tinham origem extraterrestre.
ROCHAS VINDAS DO ESPAÇO
Antes da queda registrada em Weston, Connecticut, cientistas americanos, incluindo Jefferson, não sabiam realmente o que pensar sobre os inúmeros relatos de avistamento de meteoros registrados por todo o globo. Entretanto, na década de 1790, na Europa, uma série de registros bem documentados a partir de relatos de inúmeras testemunhas mudaria finalmente a visão da comunidade acadêmica.
A conclusão de um cientista alemão, Ernst Friedrich Chaldni, era que meteoritos são corpos celestes vindos do espaço. Chaldni não observou bolas de fogo nem testemunhou meteoritos caindo do céu de forma direta. Ele simplesmente se deu ao trabalho de reexaminar os inúmeros registros que estavam sendo feitos em sua época. Ele notou diversas semelhanças entre esses relatos. As bolas de fogo pareciam viajar a grandes velocidades, sugerindo uma origem cósmica. O crescimento em tamanho e brilho à medida que os meteoros desciam pela atmosfera inferior e as explosões que eram detectadas imediatamente antes da queda de rochas serem avistadas sugeriam fortemente que os fireballs e os meteoritos estavam relacionados de alguma forma e que as rochas que eram encontradas próximas ao local das explosões eram simplesmente o resíduo carbonizado desses meteoros.
Chaldni também estudou material meteorítico, especialmente um grande meteorito ferroso encontrado em 1749 no Monte Emir, na Sibéria, a cerca de 230 quilômetros ao sul da cidade de Krasnojarsk. O meteorito de 726 kg foi examinado pela primeira vez pelo cientista alemão Peter Simon Pallas em 1772 e posteriormente transportado para Krasnojarsk. Hoje, esse meteorito é conhecido como Pallas Iron, e o principal fragmento do espécime está guardado na Academia de Ciências de Moscou. Chaldni estava convencido de que esse corpo não poderia ter se formado na atmosfera ou ter sido ejetado por erupções vulcânicas (como sugeria alguns).
Em 1794, Chaldni resumiu suas investigações em um livro de 63 páginas. Duas conclusões importantes prepararam o palco para a derrota daqueles que eram céticos acerca da origem espacial desses objetos: 1) meteoritos rochosos e ferrosos de fato foram avistados “caindo do céu”; e 2) essas rochas eram restos de fireballs e um não poderia existir sem o outro.
Membros da respeitada Academia de Ciências da França continuaram resistentes à ideia da origem extraterrestre dos meteoros e meteoritos. Então, ao meio-dia de 26 de abril de 1803, ironicamente, diversas rochas foram avistadas caindo dos céus de L’Aigle, na Normandia, França. No dia seguinte, mais de três mil meteoritos foram coletados no local da queda. Jean-Baptiste Biot, um renomado cientista francês, investigou e apresentou indubitáveis evidências ao Instituto Nacional da França. Biot descobriu que os meteoritos caíram formando um padrão elíptico no chão, descrição que ia ao encontro das ideias de Chaldni. Após essas investigações, outros cientistas franceses, ao também estudar o acontecido, finalmente aceitaram as conclusões de Biot. Meteoritos, de fato, tinham origem espacial.
Texto extraído e adaptado de: NORTON, O. R. Rocks from Space. 1 ed. Missoula, Montana: Mountain Press Publishing Company, 1994. p. 35-39.
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